domingo, junho 08, 2003
O TEMPO
No dia 28.5.03, JPP , reflectia assim sobre o TEMPO:
Há um ponto comum em vários "fios da meada" ( há em português alguma designação para "threads" ?) que daqui tem origem e depois são puxados noutros sítios . Os "objectos em extinção" e o "ler duas vezes" tem um ponto em comum - são sobre o tempo . No primeiro caso , o tempo é mais material , hard , de algum modo inevitável como todo o tempo é . No segundo , é o tempo psicológico , a nossa fábrica interior que se revela quando lemos diferente o mesmo livro .
Vejamos agora o que escreveu Thomas Mann, na Montanha Mágica sobre o tempo.
“Que é o tempo? Um mistério: é imaterial e – omnipotente. É uma condição do mundo exterior; é um movimento ligado e relacionado com a existência dos corpos no espaço e com a sua marcha. Mas, deixaria de haver tempo, se não houvesse movimento? Não haveria movimento sem o tempo? É inútil perguntar. É o tempo uma função do espaço? Ou vice-versa? Ou são ambos idênticos? Não adianta prosseguir perguntando. O tempo é activo, tem carácter verbal, «traz consigo». Que é que traz consigo? A transformação. O Agora não é o Então; o Aqui é diferente do Ali; pois entre ambos se intercala o movimento. Mas, visto ser circular, e fechar-se sobre si mesmo, o movimento pelo qual se mede o tempo, trata-se de um movimento e de uma transformação que quase poderiam ser qualificados de repouso e de imobilidade: o Então repete-se constantemente no Agora, e o Ali reaparece no Aqui. Como, por outro lado, nem sequer os mais desesperados esforços nos podem fazer imaginar um tempo finito ou um espaço limitado, decidimo-nos a configurar eternos e infinitos o tempo e o espaço, evidentemente na esperança de obter dessa forma um resultado, senão perfeito, ao menos melhor. Ora, estabelecer o postulado do eterno e do infinito não significa, porventura, o aniquilamento lógico e matemático de tudo quanto é limitado e finito, e a sua redução aproximada a zero? É possível uma sucessão no eterno ou uma justaposição no infinito? São compatíveis com as hipóteses de emergência do eterno e do infinito, conceitos como os da distância, do movimento, da transformação, ou a simples existência de corpos limitados no Universo? Quantas perguntas improfícuas!” (…)
MANN, Thomas, “A Montanha Mágica” (trad. Herbert Caro), Lisboa, Edição «Livros do Brasil» Lisboa, 2000, p. 362.
Quanto aos “objectos em extinção”, parece clara a questão, uma vez que associado ao Tempo, está todo o desenvolvimento material do mundo, como o diz JPP, quanto ao ler o mesmo livro duas, três ou mais vezes a questão já é diferente, parece-nos. E porquê?
Tudo dependerá, da evolução do próprio ser humano ou mais particularmente da pessoa, enquanto património individual e de todo o seu percurso nos caminhos da vida. Onde chegamos e onde almejamos chegar. Parece-nos que os caminhos para o “onde” queremos chegar, é mais uma vez magistralmente descrito por Thomas Mann na Montanha Mágica.
Na prática, pensamos, que só chegaremos a releituras, se passarmos por muitas outras novas leituras. É assim o maravilhoso mundo da literatura e da poesia. E da vida. Também é assim, que o diz JPP. Por isso mesmo estamos de acordo.
posted by Luís Miguel Dias domingo, junho 08, 2003