domingo, junho 29, 2003
LITERATURA
Na luminosa tarde de Verão mergulhados,
Vagarosamente deslizamos,
Nossos remos manobrados
Por bracitos inábeis
Enquanto frágeis mãos procuram, em vão,
Guiar nosso caminho sem destino.
Ah, cruéis Três! Numa hora destas
E por um tempo de sonho assim
Implorar uma história a quem
Não tem já fôlego para agitar sequer uma pequena folha!
Mas que pode o pobre solitário
Contra três imperiosas vozes?
A Primeira, ordena, implacável,
«Começa já.»
A Segunda, mais doce, pede:
«Tem de haver muita fantasia!»
E a terceira interrompe-me
Não mais do que uma vez em cada minuto.
Logo, ao súbito silêncio submetidas,
Na fantasia seguiram
A criança dos seus sonhos, pelo País
Das Maravilhas, fantásticas, diferentes,
Em conversa amena com pássaro e animal
Quase em tudo acreditando…
E, sempre que a história secava
As fontes da fantasia,
Eu, cansado, lhes pedia
Para pararmos:
«Fica para outra vez…»; «A outra vez é já!»
Ordenavam as alegres vozes.
Assim foi avançando a história do País das Maravilhas
E um a um, lentamente,
Se traçavam fantásticos sonhos.
Agora, a história está pronta…
E rumo a casa, tão felizes, vogávamos
Sob a intensa luz do poente…
Alice! Aceita esta ingénua história
E com tua mão carinhosa
Entrega-a ao mundo da infância
Onde místicas memórias se entrelaçam
Como coroas de flores raras, que um peregrino
Colhesse em longínqua Terra Prometida!
in Alice no País das Maravilhas.
posted by Luís Miguel Dias domingo, junho 29, 2003