quinta-feira, junho 19, 2003
CINEMA
Hoje pelas 21h e 45 m, no cineclube de Guimarães, “A Cidade de Deus”.
“«Foi um acerto de contas com a minha realidade, eu era revoltado. Com a vida, com a política brasileira, com a escravidão, com a colonização. Só não fui mais revoltado com os portugueses porque meus avós eram portugueses. Mas escrever sempre foi uma necessidade. Se não fosse a “Cidade de Deus” seria outra coisa. Está dentro de mim desde criança. (…)
Paulo Lins tem 44 anos. Viveu cerca de 30 anos na Cidade de Deus, uma favela na periferia do Rio de Janeiro. O livro que traduz esta experiência foi lançado no Brasil em 1997 e está agora a ser traduzido para dez línguas. O filme, baseado no livro e realizado por Fernando Meirelles, foi visto por milhões de espectadores (só no Brasil foram quatro milhões!). Vive desde sempre com as palavras. A literatura serve-lhe para reconstituir o seu universo. (…)
Vive agora ao lado de Copacabana, em Santa Teresa. Os seus filhos, que têm 22 e 14 anos, têm uma vida muito diferente da sua. O que significou para si poder dar aos seus filhos uma infância?
- É conseguir romper a barreira social. Hoje a minha filha é classe média, se comporta como classe média. Não sabe o que é favela, não conhece essa realidade. O garoto nasceu lá, ainda viveu um tempo lá. A mãe do meu filho e a mãe da minha filha são da favela. Mas a mãe da minha filha é também historiadora, ela se formou. A minha filha é uma burguesinha.
Diz isso com que tom? Com gosto?
- Com certeza. É muito bom ver teu filho tendo uma vida digna. Estudando, numa escola, comendo bem, sem problemas materiais. Só tem problemas existenciais.
É o luxo da classe média?
- É.”
in Dna, de 14 de Junho de 2003.
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, junho 19, 2003