terça-feira, setembro 18, 2012
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“- Sabe o que eu mais gostava de ouvir?- O quê?- O silêncio absoluto. Um silêncio completamente absoluto.- Porquê?- Porque é pacificador.”
1. 1936
2. 1972
3. 2010
1. Charles Chaplin
2. Luis Buñuel
3. Sofia Coppola
1. Tempos Modernos
2. O charme discreto da burguesia
3. Algures
1. Charles Chaplin, Tempos Modernos, 1936
2. Luis Buñuel, O charme discreto da burguesia, 1972
3. Sofia Coppola, Algures, 2010
4. São, os três, fotogramas finais.
5. Road to nowhere?
1. Ano, e tempo, entre duas guerras mundiais, a grande depressão americana iniciada em outubro de 1929 (depois do fordismo e do taylorismo terem levado aos loucos anos 20) e que se mundializou e também da Guerra Civil Espanhola; em Portugal tinha começado o Estado Novo, há três, mas em ditadura desde 1926.
Foi o último filme mudo de Charles Chaplin, na cena final, o operário fabril diz à jovem que ele e que com ele quis ficar que devia pôr um sorriso no rosto (e vê-se ele como que a desenha-lo) e a desistir antes da sua desistência, que a vida é maravilhosa e as dificuldades para ultrapassar, as montanhas ao fundo, “havemos de nos desenrascar”. Ela sente-se insuflada, dão o braço e siga.
Actualmente, não falta quem queira comparar aqueles dias aos de hoje.
O que é que já vimos que nos afasta daquele sorriso?
O que é que já temos/somos e que eles não tinham/eram?
Quais eram os seus projectos?
Charles Chaplin a desenhar o sorriso em Paulette Goddard e a dizer-nos que as lutas são de todos, todos os dias, que não podemos esmorecer e muito menos desistir.
A estrada. As montanhas. A vida. Para todos.
2. O que fizemos nós daquele sorriso e daquela determinação?
O que fizeram alguns de nós daquele sorriso e daquela determinação?
Ano, e tempo, próximo de 68. França. E assim.
Aquele sorriso e aquelas montanhas tornaram-se em quê?
As nossas ambições depois da segunda grande guerra, ainda que naturais normais necessárias, tornaram-se em quê?
Aqueles três casais andam/andavam à procura do quê?
Hedonismo?
Prazer pelo prazer?
Conseguem-no?
Estão em fuga?
Não foi normal?
O que faríamos?
Mas.
A parte pelo todo?
Assim pareceu.
Assim parece.
Aquela estrada tornou-se em quê?
Aquele andar, aqueles passos são o quê?
Nada, diz Buñuel.
Nada?
Vão em busca de?
Querem o quê?
São a parte de uma parte que esquece o todo?
Têm noção de como chegaram aí?
Começaram a dizer muitas vezes e seguidas, eu, eu, eu?
A esfera em que se encontram é qual?
Já gaguejam muito antes de começar a falar?
Aquela estrada…
Road to nowhere?
A nossa?
Sim, Bénard da Costa cita Mário Cesariny: “burgueses somos nós todos / burgueses desde pequenos / burgueses somos nós todos / ou ainda menos”.
3. Naquela estrada?
Na mesma?
Mas em sentido inverso.
Um filme assim.
Quantos de nós conseguem dizer à moda: vai-te foder?
Imagina, sim: estás num sítio agradável num dia de férias normal pegas e abres um livro em busca de e tens de voltar para trás ficas ali assim sem te mexeres e ou estás num sítio agradável num dia de férias normal dentro da piscina depois do mar rodeado de amigos e de um momento para o outro zás: o que fazes aqui? Ei. O que fazes aqui? Ei. Ficas parado e ouves aquilo como um eco. Ficas parado a olhar para lado nenhum. Zás: o que fazes aqui? Ei. E ficas assim durante alguns minutos. E depois. Depois. Depois estás perdido, estás no deserto, no início de qualquer coisa que não sabes o que é, como raio havias de saber? E como é que sais da piscina? Como é que te vais deitar na toalha? Como é que vais continuar a responder como se nada se tivesse passado? Zás? Ei. Tudo à roda. Até parece que perfuraste um tímpano. Zás. Como as comportas de uma barragem. E depois. Depois. Depois como escreveu um dos escritores de quem gosto mesmo muito pode ser que comece o “estado de graça terrível”.
E então, estacionamos/encostamos o ferrari à valeta e começamos?
Diremos subitamente, no verão passado?
6. Cada um tem o tempo que tem, que nos molda assim ou assado.
Quantos de nós conseguem estar no nosso tempo?
Quantos de nós sabem isso, do nosso tempo?
Quantos de nós conseguem dizer à moda para se ir foder?
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, setembro 18, 2012
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