terça-feira, maio 22, 2012
se também tu fosses só três sílabas
de plástico,
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outro com ares de Archie Bunker
Repare-se nesta passagem lida no Santuário de Fátima por Gianfranco Ravasi:
"Um antigo poeta grego, Ésquilo, exclamava: «Infinita é a respiração da dor que sobe da terra ao céu. Existirá um deus que a recolha?». A sua pergunta cética não tinha resposta: Nós, ao contrário, apresentamos a nossa secreta bagagem de sofrimentos, de doenças, de mal, de pecado, de solidão, de incompreensões a Maria para que a entregue ao seu Filho."
Antigo?
Não tinha resposta?
Nós, ao contrário?
Átrio dos gentios?
Prossigamos.
"«Fazer», operar é o verbo típico das mãos. Não devemos ter medo de sujar as mãos, ajudando os miseráveis da terra: para que servirá ter as mãos limpas, se as temos no bolso?"
Não sei mas... quem?
Sujar as mãos, como?
Pertencendo a associações ________? que privilegiam uns em detrimento de outros desde quase sempre?
Contribuindo para a destruição do sonho?
Continuando:
"Esta noite, regressado a Roma, da minha janela que dá para a basílica e a cúpula de São Pedro e para a residência do Papa Bento XVI, do qual sou colaborador, confiarei a Deus o nosso encontro. Ele, que conhece cada rosto das suas criaturas, vos abençoe e ponha ao vosso lado um «anjo da guarda à noite transparente», como cantava de Fátima o vosso poeta Vitorino Nemésio."
Deus está nos detalhes? "da minha janela que dá para a basílica e a cúpula de São Pedro e para a residência do Papa Bento XVI, do qual sou colaborador, confiarei a Deus o nosso encontro".
É a vida.
Ares de Archie Bunker:
"Infelizmente, na sociedade contemporânea, são os corpos sem alma a dominar, tornando-se carne sem espírito, ora adorada ora desprezada. Tinham razão os indígenas brasileiros que disseram ao escritor alemão Michael Ende: «nestes últimos tempos, andamos para a frente tão rapidamente como progresso que temos de parar um pouco para permitir às nossas almas atingir-nos». Ora bem, o corpo é uma arquitetura admirável que tem sobretudo no rosto a via para se abrir ao mundo e ao próximo. Procuremos, então, contemplar o rosto em alguns dos seus traços essenciais.
Na cultura contemporânea, que é muitas vezes fluida, inconsistente, semelhante a uma neblina que não conhece pontos firmes morais e luzes de verdade, o Apóstolo convida-nos a não nos «conformarmos com este mundo», navegando na superfície, à deriva, sem refletir e interrogar, sem procurar e julgar. Paulo, ao contrário, exorta-nos a «transformar-nos», tende a mente fixa no que «é bom, agradável a Deus e perfeito»."
É que ainda só estamos na pré-história desta sociedade, e conseguir ver através de um tranqueiro atravessado nos olhos um grão nos olhos dos outros é mais um detalhe, um detalhe contínuo e sistemático.
Aflitivo, de facto.
posted by Luís Miguel Dias terça-feira, maio 22, 2012