quinta-feira, agosto 04, 2011
5/11
5. Recordações da Casa Amarela, 1989 + Conserva Acabada
excerto do testemunho de Gérard Castello-Lopes: "eu acho que ele tinha uma ética, e que essa ética só transpareceu a partir de uma determinada altura e que é a altura é essa grande cesura, para mim, na vida do César, que é as Recordações da Casa Amarela.
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Se eu me considero um anarquista já pode imaginar que a vida para mim não tem sentido, o nascer não tem sentido, o crescer não tem sentido, o amar in limine não tem sentido, e o morrer ainda menos. Portanto, tentando ser coerente comigo próprio a minha ideia de sublime, aquilo que dá, fugazmente e artificialmente, um sentido à minha vida é por exemplo ver A Comédia de Deus. Isso dá um sentido à minha vida. Há a percepção de uma realidade e a percepção da incomensurabilidade dessa realidade, voilá."
excerto do testemunho de Fernando Lopes: "Em 70 e tal, 77, volto à televisão como director do segundo canal, e como director do segundo canal tinha a possibilidade de encomendar obras a pessoas, e que sabendo eu que o César era um grande admirador do Carlos de Oliveira, que era também meu grande amigo, entretanto já tinha feito A Abelha na Chuva, juntavamo-nos muitas vezes no Toni dos Bifes e o Carlos de Oliveira insistia muito por que é que nós não fazíamos alguns dos contos tradicionais portugueses, que ele próprio tinha compilado e coligido com o José Gomes Ferreira. Eu nunca peguei na ideia mas percebi logo que aquilo era uma ideia que dava bem para o João César. E quando eu fui para o segundo canal encomendei três filmes de meia hora cada um. Há um deles que eu acho que é uma obra-prima, que é O Amor das Três Romãs, e que por sua vez, o conjunto dos três filmes veio, implicitamente, fazer com que ele chegasse ao Silvestre, que é um dos primeiros filmes do César em que a gente começa a ver alguma coisa do César que mais tarde veio a revelar-se em todo o seu esplendor nas Recordações da Casa Amarela.
Acho que ele é um caso absolutamente singular na história do cinema, não é do cinema português, é do cinema e que tão cedo não vamos ter, outro assim...
[...]
Há uma coisa absolutamente singular no cinema do João que é facto do João ser ele próprio não o actor do filme mas ele dá-se em pelno dentro do filme, o que obviamente lhe deve ter criado alguns problemas ao longo dos filmes, fortes problemas. Depois, eu não queria utilizar a palavra actor para o João porque acho que ele não merece essa palavra actor para ele porque ele merece mais do que isso. É quase que... como se ele fosse uma mistura de Tati e de Buster Keaton simultaneamente mas em... a gente está sempre a ver quando e que ele vai levantar voo, ou quando é que ele vai desaparecer..."
excerto de César Monteiro: Depois de Deus, João Bénard da Costa:
+ curta-metragem: Conserva Acabada
excerto de A Arte Mágica, Fernando Cabral Martins:
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, agosto 04, 2011