quinta-feira, maio 06, 2010
a ideiaCaro Daniel Oliveira,
ao fim de alguns anos dirijo-me a si pela primeira vez, primeiro para o cumprimentar, depois para o felicitar e, por fim, dizer-lhe ao que venho.
Felicitar, pelos blogues que criou juntamente com outras pessoas e pela clareza das posições que foi/vai tomando; que umas vezes mais me aproximo outras me distancio.
Ao que venho, no seu post, ou texto, intitulado Parque escolar: uma oportunidade perdida, logo na primeira linha, primeiro ponto diz:
"Um dos bons investimentos públicos para animar a economia foi a ideia de renovar o parque escolar."
O que me fez parar, logo, a leitura foi "foi a ideia". E a partir daqui não sei como dizer que a ideia a que se refere é tantas coisas juntas, a disparar:
distracção alheamento ignorância distanciamento gabinete vida lá fora vida mesmo vidinha e mais por aí fora [______________________________________________________________________________________]
Não se aplicam a si estas tantas coisas assim juntas. À ideia sim. Não a si, já o vi à beira de fábricas texteis de bandeira e panfletos e sem bandeira e sem panfletos na mão, junto de trabalhadores, e por aquilo que escreve vou vendo e sabendo da sua atenção; maior do que a maior parte dos quase outros todos jornalistas, cronistas, encantadores de serpentes sem ferrôto...
A ideia é a vida real: centros de saúde, cadeias, hospitais, escolas, tribunais, lojas do cidadão...
A ideia é andar distraído e preocupado com a vidinha dos gabinetes e de se ser isto ou aquilo no partido x ou y; é andar de olhos abertos e não ver; Bolaño tem lá uma parte que fala dos políticos que aparecem de óculos escuros e que lhe dão vontade de...., depende quase sempre do que se está a focar, a reflectir, onde se pretende chegar.
Cavou-se e cava-se cada vez mais um fosso enorme entre aquilo para que existem os partidos políticos e aquilo que fazem dos e os partidos políticos. Lisboa não percebe o país, não sabe do país, não que há mais 350 km para baixo e 400 km para cima, e as regiões autónomas, onde vivem alguns milhares e milhões de pessoas. Não sabe porque não se lembra que existe, só em campanha, ou telefonar ao pai ou à mãe e ouvir isto e aquilo e dizer a vida é assim, o que vamos fazer? Olhe, paciência; dizem.
A única coisa que interessa são os lugares, as nomeações, os prémios, as condecorações, as prebendas...
Metáfora, citação: "Sem Catarina presente, o julgamento transforma-se num entretenimento obsceno. O conde de Shrewsbury está diante do tribunal, um homem que lutou com o velho rei em Bosworth. Recorda a sua própria noite de núpcias, de há muitos anos, em que era, como o príncipe Arthur, um rapaz de quinze anos; nunca tinha estado com nenhuma mulher, diz ele, mas cumpriu o seu dever para com a noiva. Na noite de núpcias de Arthur, ele e o conde de Oxford tinham levado o Príncipe ao quarto de Catarina. Sim, diz o marquês de Dorset, e eu também lá estava; Catarina estava debaixo da colcha, o Princípe meteu-se na cama ao lado dela.
- Ninguém está disposto a jurar que se meteu na cama com eles --sussurra Rafe. - Mas pergunto-me se não terão encontrado alguém que o faça."
Caro Daniel, o problema da ideia, reduzida e ampliada, é esse, é não querer saber que a vaidade e a ambição são tão __________, que o homem é lobo para o próprio homem.
Com estima.
posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, maio 06, 2010