sexta-feira, outubro 30, 2009
1. O semanário Expresso é o semanário Expresso e está tudo dito. Aqui há meia dúzia de anos ouvia-se zurzir muito no que por lá lá se escrevia, que era do piorio, isto e mais aquilo e aqueloutro, vozes ferozes, mas agora não, pois os zurzidores estão lá e os que não estão são seus amigos. No fundo, Portugal.
E foram para lá dizendo e afirmando-se diferentes. O cuspo é fodido.
Mas o semanário Expresso é o que é e a edição do fim de semana passado provou-o uma vez mais. Há alguma explicação para aquela fotografia na primeira página ser aquela a fotografia da primeira página? Diria que só no semanário Expresso. Nunca por sombra alguma deixaria aquela fotografia ser a da primeira página. Mas percebo porque não percebam isso, afinal estamos a falar do semanário Expresso. Queriam o quê, concretamente?
2. Um livro que saiu há meia dúzia de meses Joseph Ratzinger, Paolo Flores d`Arcais, Existe Deus? da editora pedra angular:
"A revista italiana MicroMega lançava um volume sobre o confronto entre Fé e Razão, com textos, entre outros, do seu Director, Paolo Flores d`Arcais, e do então Prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger. Para o efeito, organizou um debate com ambos os autores, num lugar público de Roma, e sob moderação do jornalista Gad Lerner. O histórico diálogo foi seguido por mais de duas mil pessoas, dentro e fora do Teatro Quirino (muitas em plena rua, recorrendo-se a um amplificador improvisado).
Existe Deus? - Um confronto sobre verdade, fé e ateísmo apresenta a transcrição desse debate, bem como dos textos de Ratzinger e Flores d`Arcais que estavam, nesse dia, a ser lançados."
Um cristão um ateu e um judeu.
Claro que em Portugal se acha e achou que não vale a pena discutir assim, as pessoas são na maioria dos casos ignorantes sem a escola primária, leia-se Pulido Valente, e por isso é perder tempo, Pacheco Pereira ajudou. Estes dois homens comentam quase tudo o que se passa e acontece, mas esta não valia a pena.
Faz-me muita confusão que intelectuais como os acabados de citar se atirem para as franjas de discussões importantes, que não se deixem contaminar, isto é muito português, e que de lá digam que não se vê nada, que não se está a passar nada, só circo. Veja-se um exemplo deste estado de coisas: um homem que tem uma das melhores profissões que hoje se pode ter, deputado no parlamento europeu, bem pago, com tempo para reflectir, viagens, etc, etc, elite, portanto, disse o que disse sobre Saramago, que devia renunciar... enfim.
Pulido Valente e Pacheco Pereira não perceberam que para lá da espuma da discussão havia uma outra discussão, e não a quiseram ter por serem portugueses, intelectuais do espaço público português.
A História diz-nos, todos os dias, que as mentalidades são aquilo que demora mais tempo a mudar, muito mais tempo.
3. O encontro entre José Saramago e José Tolentino Mendonça serviu entre muitas outras coisas para desbravar terreno; estar disponível para a discussão é muito sadio, e não se deixar prender nas suas verdades e virtudes ainda mais, discutir, discutir, ah, Grécia, Grécia.
E a conversa entre estes dois homens no semanário expresso da semana passada foi algo a que não estamos habituados, normalmente só a política da pequeninha, bastidores e nada mais.
Que se tivesse dito alto e bom som para todas as pessoas:
a Bíblia é uma obra literária e um hipertexto; porque ama a sua mulher e não outra? a fé é um paradoxo; querer tratar Deus com lógica é chegar a um beco sem saída; pode-se entender a condição humana sem o paradoxo? os cristãos são criados pela liberdade; o cristianismo é uma aventura da liberdade; Deus escolhe o mais pequeno, o último, a vítima, aquele que não tem voz nem vez; o fumo das fogueiras enche a história de todos os tempos; aqueles que pensam que são isentos do mal é que me metem medo; dentro do cristianismo há muitos cristianismos; a experiência do mal está em todas vidas; a Bíblia é um teatro de Deus; nós sabemos de Deus o que Jesus de Nazaré nos revelou; acha que a Bíblia é só isso? e chora e arrepende-se de todo o mal que fez; é preciso amar a imperfeição.
4. O blogger do complexidade e contradição, que há muito adoptou o estilo do blogger do a causa foi modificada, para quase todos os posts que vou tendo a oportunidade de quando em vez ler, imitando uma frase que maradona em tempos também assinou ou postou dizendo mais ou menos o mesmo "que [Tolentino Mendonça] é uma pessoa quase tão superior às outras...". Foi quase à letra.
Escreveu o dono do complexidade e contradição que o debate prometido pelo semanário expresso foi de vidro e que por isso estamos perdidos, que não encontrou lá nada, portanto, que valesse a pena, que para aquilo mais valia nada, nada.
Este post ou comentário ou observação ou desencanto ou decepção ou lá o que mais for, pode ser cegueira, olha, olha, fez-me lembrar um outro post em que o blogger do portugal dos pequeninos, e reparem na ironia, dirigindo-se ao do clube das repúblicas mortas, quando este disse mal da encíclica de Bento XVI, Raposo, dizia-lhe que ao padre teólogo não lia mas a si sim, a si, sim, leio.
Fez-me lembrar o casting do ídolos.
posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, outubro 30, 2009