quarta-feira, novembro 21, 2007
Naquele dia tinha sido bafejado pela sorte, o sol nascera bem cedo. Viu-o como numa fotografia de Bresson. Deu meia dúzia de passos e acendeu um cigarro.Quando levantou a cabeça, no meio da nuvem de fumo, esbarrou com os olhos num porteiro e lembrou-se das palavras de J.
a minha atenção fixou-se no desenho das duas figuras anónimas (...) Mas agora, pela primeira vez, atordoava-me a sua presença... São, podes argumentar, meros suportes de contraste no relato, elementos secundários... (...) A quantidade de anónimos, de personagens clandestinos. Parece uma infiltração. Chegam de todas as partes. São mensageiros, amas, serviçais, transeuntes. São jovens guerreiros, gregos e frígios, velhos, campesinos, estrangeiros forçados a uma actividade servil, arautos desconhecidos que chegam num estado de miséria implacável
e pensou dizer-lhe bom dia mas não o fez, não podia quebrar aquele ensimesmamento. A peça tinha de continuar. Ou começar.
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, novembro 21, 2007