quarta-feira, fevereiro 22, 2006
"Lá fora, na rua, a chuva continuava: uma chuva delicada, pardacenta, infinda. O apito da fábrica soou a chamada das seis horas e os três fiandeiros pagaram e sairam. Não havia ninguém no café senão Leo, o velho e o pequeno ardina.
- O tempo estava em Portland como este -- disse o velho. -- Na altura em que a minha ciência começou. Meditei e iniciei-me com a maior cautela. Apanhava qualquer coisa na rua e levava-a comigo para casa. Comprei um peixe dourado, concentrei-me no peixe dourado, e amei-o. Formei-me de coisa para coisa. Dia a dia ia dominando a técnica. Na estrada de Portland para San Diego...
- Ai, cala-te! -- berrou Leo, de súbito. - Cala-te! Cala-te!"
Curson McCullers (trad. Jorge de Sena), "Uma Árvore, Um Rochedo, Uma Nuvem" in Folhas Vermelhas e outros contos americanos, Colecção 2 horas de leitura, Público, 2004.
posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, fevereiro 22, 2006