A montanha mágica

sábado, junho 21, 2003

LITERATURA



O que me aconteceu nas minhas férias

(Para Elias Fawcett, 1978-1996)

“Fomos dar as úldimas braçadas: o Blapo bringou gom o seu dubarão insuflável e levava os «bracinhos» insufláveis bosdos. E quando xegou a aldura de nos fazermos à esdrada, o Baplo regusou-se a deixar figar o beixinho. Disse que queria levá-lo bara gasa e insdalá-lo num sago, no seu quardo… o beixinho ia ser o animal dele – em vez de um gão ou um gado!
No garro, eu disse:
- Bem, Baplo, esse garapau há-de dar um rigo ambiendador bara o deu quardo.
- Borquê? – berguntou ele.
- Borquê? Borque não darda gomeça a xeirar a beixe mordo.
- Não me imbordo.
- Borque não?
- Besundo-o gom greme.
- Ai sim? Que esbécie de greme, Baplo?
- Greme bara beixes.
Dodos soldámos uma boa gargalhada ao ouvir isdo. E eu disse:
- E os rados, Baplo? Se abarece um rado de noide?
- Não me imbordo.
- Borque não?
- Borque gausa do greme de beixe.
Mais gargalhadas.
- Borque é que não voldas ao Dead Man`s Landing, Baplo, e vais busgar o garankejo mordo? Era um bom gombanheiro bara o teu beixe.
Mas o meu bai disse que o Baplo já dinha o brado xeio, brimeiro o beixe, debois o rado.
Quando xegámos a gasa dele, o Baplo abresendou a mãe ao seu novo animal.
- Esde é o meu beixe. É bradeado. É bequeno. Esdá mordo. Veio do mar. Mora nesde sago.
Gomo se esdar mordo fosse só mais uma goisa de beixe, mais um dos seus adribudos. A mãe do Baplo figou dudo menos endusiasmada. Mas quando delefonámos na manhã seguinde, bara saber novidades, o Baplo disse que o seu beixe esdava ódimo. (…)

Era evidende que o Baplo ainda não gombreendia o que é a morde.
Mas quem gombreende?
A morde esdeve muito na minha gabeça no cerão; muido na minha gabeça. Bor causa do Iliaz. O Iliaz morreu, na Cidade de Londres. E bor isso a morde andou muido na minha gabeça.
O meu papá disse que no brincíbio do verão o Iliaz foi a gasa. Foi a gasa busgar o gasago, mas o esdava no garro do meu babá e o garro esdava noudro sídio a arranjar a baderia, edc., edc. díbigo do Iliaz, andar bela cidade adrás de um gasago. (…)

Foi a gaminho do aerobordo que surgiu o dema Iliaz: o dema da morde. O meu babá disse:
- Sendes-de diferende quanto a isso? Quando à morde?
Eu disse:
- Agora já gombreendo que as bessoas morrem.
O Jagob indromedeu-se e disse:
- Eu há anos que bercebi isso.
- Não seu idioda. – Disse eu. – Eu bercebia. Mas só agora é que gombreendi.
E o Jagob gongordou. Dambém ele dinha gombreendido.
Andes, eu sabia que os garankejos morrem e que os beixes morrem. Sabia que os velhos, gom dodas as suas dores emazelas, bodiam der razões bara se sentirem grados ande a bersbecdiva do fim. E glaro que, em dodo o mundo, um crante número de bessoas dem desadres, bassa fome, sangra, arde, leva bauladas, murros, fagadas, e gaem, gaem em crante número, em dodo o mundo. Mas a morde nunga dinha esdado dão berdo, onde não devia esdar. O Baplo, O Jagob, o Iliaz. Somos a juvendude. Não somos? (…)

As férias vieram e foram-se. As férias acabaram.
Adeus a tudo.
E foi isto o que aconteceu nas minhas férias.

New Yorker, 1997.”

AMIS, Martin (trad. Telma Costa), “Água Pesada”, Lisboa, Editorial Teorema Lda., 1998, p.p. 225-230.

posted by Luís Miguel Dias sábado, junho 21, 2003

Powered by Blogger Site Meter

Blogue de Luís Dias
amontanhamagica@hotmail.com
A montanha mágica YouTube




vídeos cá do sítio publicados no site do NME

Ilusões Perdidas//A Divina Comédia

Btn_brn_30x30

Google Art Project

Assírio & Alvim
Livrarias Assírio & Alvim - NOVO
Pedra Angular Facebook
blog da Cotovia
Averno
Livros &etc
Relógio D`Água Editores
porta 33
A Phala
Papeles Perdidos
O Café dos Loucos
The Ressabiator

António Reis
Ainda não começámos a pensar
As Aranhas
Foco
Lumière
dias felizes
umblogsobrekleist
there`s only 1 alice
menina limão
O Melhor Amigo
Hospedaria Camões
Bartleby Bar
Rua das Pretas
The Heart is a Lonely Hunter
primeira hora da manhã
Ouriquense
contra mundum
Os Filmes da Minha Vida
Poesia Incompleta
Livraria Letra Livre
Kino Slang
sempre em marcha
Pedro Costa
Artistas Unidos
Teatro da Cornucópia


Abrupto
Manuel António Pina
portadaloja
Dragoscópio
Rui Tavares
31 da Armada

Discos com Sono
Voz do Deserto
Ainda não está escuro
Provas de Contacto
O Inventor
Ribeira das Naus
Vidro Azul
Sound + Vision
The Rest Is Noise
Unquiet Thoughts


Espaço Llansol
Bragança de Miranda
Blogue do Centro Nacional de Cultura
Blogue Jornal de Letras
Atlântico-Sul
letra corrida
Letra de Forma
Revista Coelacanto


A Causa Foi Modificada
Almocreve das Petas
A natureza do mal
Arrastão
A Terceira Noite
Bomba Inteligente
O Senhor Comentador
Blogue dos Cafés
cinco dias
João Pereira Coutinho
jugular
Linha dos Nodos
Manchas
Life is Life
Mood Swing
Os homens da minha vida
O signo do dragão
O Vermelho e o Negro
Pastoral Portuguesa
Poesia & Lda.
Vidro Duplo
Quatro Caminhos
vontade indómita
.....
Arts & Letters Daily
Classica Digitalia
biblioteca nacional digital
Project Gutenberg
Believer
Colóquio/Letras
Cabinet
First Things
The Atlantic
El Paso Times
La Repubblica
BBC News
Telegraph.co.uk
Estadão
Folha de S. Paulo
Harper`s Magazine
The Independent
The Nation
The New Republic
The New York Review of Books
London Review of Books
Prospect
The Spectator
Transfuge
Salon
The Times Literary...
The New Criterion
The Paris Review
Vanity Fair
Cahiers du cinéma
UBUWEB::Sound
all music guide
Pitchfork
Wire
Flannery O'Connor
Bill Viola
Ficções

Destaques: Tomas Tranströmer e de Kooning
e Brancusi-Serra e Tom Waits e Ruy Belo e
Andrei Tarkovski e What Heaven Looks Like: Part 1
e What Heaven Looks Like: Part 2
e Enda Walsh e Jean Genet e Frank Gehry's first skyscraper e Radiohead and Massive Attack play at Occupy London Christmas party - video e What Heaven Looks Like: Part 3 e
And I love Life and fear not Death—Because I’ve lived—But never as now—these days! Good Night—I’m with you. e
What Heaven Looks Like: Part 4 e Krapp's Last Tape (2006) A rare chance to see the sell out performance of Samuel Beckett's critically acclaimed play, starring Nobel Laureate Harold Pinter via entrada como last tapes outrora dias felizes e agora MALONE meurt________

São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


Old Ideas

Past